Por Aline Bersa, Programação TV Liberal

Felipe Martins

Na semana dos Povos Indígenas, celebrado dia 19, o especial “Falas” exibe o episódio “Falas da Terra: Selvagem”. Um mergulho na diversidade dos povos originários, um universo composto por quase um milhão e setecentos mil brasileiros com muitos modos de viver e de expressar.

Com uma proposta interessante e direta, o especial traz indígenas e não indígenas refletindo juntos sobre variados temas e comportamentos como as guerras travadas ao longo da nossa história contra essas populações, racismo, preconceitos, preservação ambiental entre outros assuntos, e o que devemos aprender não apenas com suas dores, mas com seus saberes e sua luta por dignidade, reconhecimento e direitos.

Por meio de experimentos sociais, o especial confronta e provoca a sociedade brasileira não indígena sobre a realidade dos povos originários, história, cultura, diversidade, ancestralidade e atualidades. “Falas da Terra” passeia por diferentes ideias e territórios para iluminar uma visão de progresso e de futuro que equilibre necessidades econômicas e preservação ambiental, garantia de direitos coletivos e liberdades individuais. O público vai acompanhar que a dor dos indígenas não chama a atenção e tampouco alcança grandes multidões, nem nas ruas e muito menos nas redes sociais.

O programa será conduzido por vozes brilhantes do pensamento indígena contemporâneo, na frente e por trás das câmeras. Ao longo do programa, figuras expoentes como Ailton Krenak, Daniel Munduruku, que também assina o roteiro do especial, e Valdelice Veron falam sobre tragédias familiares, guerras declaradas, a invasão de 1500, movimentos políticos e as dificuldades que enfrentam em diversas áreas do país, como o roubo de madeira, a disseminação de doenças nos povoados e a grilagem.

Daniel Munduruku concedeu entrevista à TV Liberal:

Daniel Munduruku é paraense, escritor, professor, ator e ativista, é um dos roteiristas do especial “Falas da Terra: Vozes Ancestrais” - TV Liberal — Foto: Juan Ribeiro

Daniel Munduruku é paraense, escritor, professor, ator e ativista, é um dos roteiristas do especial “Falas da Terra: Selvagem”. Ele atuou na novela Terra e Paixão em 2023 como Jurecê e assina pela primeira vez o roteiro do audiovisual. O escritor falou um pouco sobre essa experiência e como foi o processo de criação, juntamente com outros roteiristas como foi a preparação e o impacto de Daniel com o experimento social do Falas da Terra: Vozes Ancestrais.

Daniel Munduruku é autor de mais de 50 livros publicados por diversas editoras no Brasil e no exterior, a maioria de suas obras é classificada como leitura infanto-juvenil. Daniel escreveu “Histórias de Índio”, “Coisas de Índio” e “Serpentes Que Roubaram a Noite”, inclusive essas obras foram premiadas com menção de altamente recomendável. Já seu livro “Meu Avô Apolinário” foi escolhido pela UNESCO para receber a menção honrosa no Prêmio Literário para crianças e jovens em relação à tolerância.

Em seus escritos Daniel se dedica muito à literatura de uma forma intensiva, usando o seu olhar e as suas origens para mostrar o que é ser indígena no contexto contemporâneo: “Eu tenho de fato me dedicado muito a literatura, sobretudo, em uma literatura com esse viés de indígena que sou, trazendo um pouco de uma leitura de mundo para as pessoas, para que elas percebam o que é ser um indígena no contexto contemporâneo que a gente vive e como tem sido muito penoso aos indígenas essa convivência com a sociedade brasileira como um todo”.

Daniel Munduruku é autor de mais de 50 livros publicados por diversas editoras no Brasil e no exterior, a maioria de suas obras é classificada como leitura infanto-juvenil - TV Liberal — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

“Eu encontrei na literatura um caminho de atuação para tentar criar mesmo essa ponte entre nossas sociedades, nossos lugares de origem, fazendo com que as pessoas possam cada vez mais e melhor, conhecer o jeito indígena de ser, de se relacionar com o mundo e especial com a natureza”, Daniel Munduruku.

Daniel é escritor há mais de 25 anos e recentemente iniciou sua jornada como ator. Em 2023 esteve na novela Terra e Paixão de Walcyr Carrasco, dando vida ao personagem Jurecê. Ele disse ter ficado muito honrado com o convite e agradeceu a oportunidade de estar em um grande produto da sociedade e da televisão brasileira. A visibilidade que a novela proporciona é muito grande e foi ao longo do processo que ele foi descobrindo muitas coisas: “tudo isso me deu uma satisfação muito grande, fui descobrindo também que poderia atuar”.

Daniel além de atuar como o Jurecê, um homem de sabedoria, um pajé na trama, sendo uma espécie de conselheiro no núcleo principal da novela, fez parte como consultor: “Os diálogos ali travados tinham uma participação nossa, uma leitura prévia que permitia que não se reproduzisse preconceitos ou palavras pouco dignas de se relacionar ou se referir aos indígenas”.

Daniel Munduruku é escritor há mais de 25 anos e recentemente iniciou sua jornada como ator e fez parte do elenco da novela Terra e Paixão de Walcyr Carrasco, dando vida ao personagem Jurecê — Foto: Estevam Avellar

“Ser ator é muito diferente de ser escritor. Porque o escritor é um solitário, basicamente, mas o ator é uma pessoa coletiva, ele sempre está ali na presença de um grupo muito grande de pessoas e você de fato tem que criar um personagem, que tem que estar acima ali do que as pessoas estão te observando, você tem que de fato, atuar”, Daniel Munduruku.

Embarcando em um novo desafio, porém não muito distante de seu ofício, Daniel Munduruku está no projeto “Falas da Terra”, o escritor celebrou o fato de ser um dos roteiristas do especial e disse que essa visibilidade tem aberto caminhos importantes para outros indígenas em outros campos de atuação da arte: “Para mim tem sido um privilégio de saber que ser protagonista da literatura indígena, ser protagonista de uma novela e tudo mais vai abrindo caminhos para que essa ponte que a gente vem construindo, que ela realmente cresça e se desenvolva, e quebre os preconceitos e estereótipos que as pessoas têm com os povos indígenas”.

Daniel revelou que foi criado um conjunto de pessoas para poder pensar esse roteiro, até chegar a um caminho possível de apresentar a temática. Para o escritor, certamente, é uma das temáticas do projeto Falas mais complexas, porque é preciso convencer a sociedade brasileira, principalmente sobre sua ancestralidade, origem, questões de direitos e igualdades, além de tentar quebrar estereótipos construídos ao longo de séculos de história.

O premiado e reconhecido escritor, autor e roteirista ressalta que a temática sobre os povos originários é diferente de todos os outros, porque os povos indígenas, apesar dos 500 anos de presença na sociedade brasileira ainda são os menos conhecidos: “As nossas pautas são as mais difíceis porque elas são entranhadas no espírito do brasileiro, mas elas também fazem parte de um componente de resistência da sociedade”.

Daniel Munduruku nos bastidores de Falas da Terra, enquanto grava seu depoimento. Daniel também assina o roteiro do especial - TV Liberal — Foto: Juan Ribeiro

“Transformar em conteúdo televisivo é um desafio enorme porque qualquer tema que a gente vá tratar ele é um tema completamente polêmico. Se a gente vai tratar do tema da terra, é polêmico. Se a gente vai tratar do tema da natureza, é polêmico. Se a gente vai tratar mesmo do nosso modo de vida, que tem a ver com uma visão de mundo diferente da visão capitalista da sociedade, é um outro problema muito difícil”, refletiu Daniel Munduruku.

O pensador contemporâneo destacou a importância do reconhecimento da diversidade étnica e cultural dos povos indígenas. Além de assinar o roteiro em seu depoimento para o Falas da Terra, o professor e ativista falou sobre o histórico de lutas e resistência dos povos indígenas do Brasil, passando por assuntos que configuram a realidade dos povos originários, especialmente sobre ser indígena na sociedade brasileira, estereótipos criados e preconceitos.

Para Daniel quebrar esse estereótipos é muito difícil, porque foram séculos de uma história contada do mesmo jeito, uma visão que vem sendo reproduzida ao longo do tempo, e que até hoje, a tecnologia ajuda a disseminar informações sobre os povos indígenas. Uma formação de imagem tão fundamentada em uma ideia errada que mostrar os povos indígenas incluídos em centros urbanos, por exemplo, é como retirar sua origem. “São 500 anos de amalgamento de ideias que vão perdurar e elas vão se enrijecer dentro das pessoas, então essa visão um pouco romântica que as pessoas têm dos povos indígenas que foi trazida desde o século XVI, alimentada inclusive pela literatura, alimentada por várias formas de transmissão de conhecimento, através da escola, através da criação de um dia reservado para os povos indígenas ou para o índio, que era essa a ideia estabelecida na mente das pessoas de que existe um índio padrão, e o que foge dessa ideia, ele deixa de ser, ele é um oportunista”

Essa visão estereotipada do indígena como selvagem, preguiçoso, primitivo, que vai contra o progresso, que quer muitas terras e não usa, entre outras formas de referências que foram reproduzidas, segundo Daniel, entrou na cabeça da sociedade brasileira como um chip. Inclusive, ele reflete, que esse ‘índio’ que querem comemorar no dia 19 de abril não condiz com a realidade ou com as reais características, que são diversas e mudam de povos para povos. “Então, fazer o experimento era uma forma também de a gente mostrar que o povo brasileiro continua equivocado, e toda a nossa intenção foi dar ao povo brasileiro, aos espectadores, a possibilidade deles refletirem sobre isso e mostrar que de fato existe um preconceito que precisa ser combatido”, disse o roteirista.

O especial Falas da Terra traz indígenas e não indígenas refletindo juntos através de experimentos sociais - TV Liberal — Foto: Divulgação/TV Liberal

“O preconceito precisa ser, portanto, arrancado da melhor maneira possível para que a gente possa ter uma vida mais ou menos equilibrada. Para que as pessoas possam olhar para os povos indígenas do jeito que eles são, não do jeito que foram implantados na nossa mente. A ideia do experimento é um pouco isso, um choque nas pessoas para que elas percebam que elas estão equivocadas mesmo”, Daniel Munduruku.

O Falas da Terra traz um impacto para os telespectadores. Uma construção de muitas vozes e mãos para que seja, para muitos inclusive, apresentada a realidade, a história, a cultura e a diversidade de povos indígenas pela primeira vez. “E como mostrar para os brasileiros comuns, todos os outros que não são indígenas, que nós sim temos uma importância vital na própria sociedade brasileira e na manutenção da sociedade brasileira”, disse o roteirista Daniel Munduruku.

Daniel Munduruku é paraense, sua etnia é do povo Munduruku. Alçando voo e propagando sua voz e conhecimentos indígenas em suas obras, ressalta a relevância da representatividade dentro desse contexto, onde outros indígenas podem se inspirar e acreditar muito mais em si, sabendo que sua capacidade pode levá-los a muitas outras esferas da sociedade que lhe é de direito. “Sou realmente um paraense com muito orgulho e trago o Pará comigo. Apesar de estar fora do Pará já há muitos anos, como diz o velho ditado, a gente sai da floresta, mas a floresta não sai da gente. Então, com certeza, eu tenho orgulho de ser filho da floresta e essa floresta é o Pará e procuro representar esse nosso estado da melhor maneira possível, dentro das minhas capacidades”.

Daniel Munduruku destacou a importância do reconhecimento da diversidade étnica e cultural dos povos indígenas - TV Liberal — Foto: Juan Ribeiro

“Não abram mão da ancestralidade indígena que mora dentro de cada um de vocês, não abram mão do seu pertencimento ao universo das populações indígenas, não há possibilidade nenhuma de um brasileiro não ser indígena. Trazer dentro de si também a semente, o DNA dos povos indígenas, alimentem isso, busquem isso, não para se dizerem indígenas, mas para se dizerem Brasil”, Daniel Munduruku.

O projeto “Falas” segue durante o ano todo, trazendo experimentos sociais. Serão seis programas nas datas sociais que celebra, o Dia da Mulher, o Dia dos Povos Indígenas, o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, o Dia do Idoso, Dia da Consciência Negra e o Dia da Luta da Pessoa com Deficiência, que será produzido pela primeira vez dentro do projeto.

Falas da Terra: Vozes Ancestrais vai ao ar nesta segunda (15), na TV Liberal, após a novela Renascer.

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